“De todas as operações da guerra, as mais difíceis são,
incontestavelmente, as retiradas. Isto é tão verdadeiro que o célebre Príncipe
de Ligne dizia que ele não conseguia conceber como um exército conseguia se
retirar com sucesso.” - Barão de Jomini
A
Revolução Paulista ou, como é conhecida hoje, a Revolução de 1924, é um dos
grandes momentos da história brasileira. Graças à mobilização de grandes
efetivos em operações de combate sobre extenso território, essa Revolução é
rica em ensinamentos de estratégia-operacional, que é o objeto deste artigo.
O plano militar dos
revolucionários, idealizado pelos irmãos Joaquim e Juarez Távora, era tomar a
cidade de São Paulo em poucas horas, através do levante simultâneo das unidades
do Exército em Quitaúna e Santana, e da Força Pública
Paulista na Luz. Uma vez senhores da capital, enviariam destacamentos ligeiros
para Barra do Piraí e Santos.
Quando
as guarnições do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas
Gerais fossem enviadas para reprimir o levante, esperavam que estas também
aderissem à Revolução. Todas as tropas federais e estaduais localizadas no
território paulista seriam concentradas em São Paulo, sob comando supremo do
General Isidoro Dias Lopes. Este exército revolucionário lançaria, então, uma
ofensiva em direção ao Rio de Janeiro, capital da República, para deposição do
governo. O flanco leste da Revolução seria protegido contra um desembarque com
guardas na Serra do Mar, nos acessos de Santos e Paranaguá.
 |
Ilustração Eloar Guazzelli - livro São Paulo em Guerra |
Iniciado
o levante na madrugada de 5 de julho, houve resistência acirrada por parte de
algumas unidades da Força Pública que permaneceram fiéis à legalidade,
recebendo reforços do Exército e Marinha. O plano inicial dos revolucionários
foi frustrado e os combates pela posse da capital arrastaram-se indefinidos pelos
dias seguintes, em uma luta de linhas confusas e poucos movimentos cordenados.
A posse da capital só se decidiu
na manhã de 9 de julho, após quatro dias de intensa luta de barricadas e
bombardeios de artilharia, quando as forças legais abandonaram o perímetro
urbano, indo concentrar-se na periferia afastada de Guaiaúna e Ipiranga. Os
legalistas, expulsos de São Paulo, controlavam, entretanto,os
acessos à capital por Santos e pelo Vale do Paraíba, mais uma vez frustrando a
estratégia revolucionária de marchar para o Rio de Janeiro.
Nos
primeiros dias da Revolução, várias unidades do interior do Estado aderiram,
mas nas demais regiões e em outras capitais o movimento revolucionário falhou. No
nível estratégico a vitória mais importante para os revolucionários viria, ironicamente,
pelas mãos de um oficial legalista. Desde o dia 5 estavam estacionados em Bauru
300 homens da Força Pública, equipados e prontos para marcharem rapidamente sobre
o flanco norte da capital. Se este movimento legalista tivesse sido executado, a
qualquer momento, durante as duas primeiras semanas de luta, teria sido fatal à
Revolução. Mas, para perplexidade geral, em 10 de julho o comandante da tropa,
Major Januario Rocco, dispersa o batalhão e deserta, sem nenhum combate,
deixando Bauru aberta aos revolucionários, que a ocupam com forças
inexpressivas.
Na capital a retirada das forças legalistas representou o
fim dos combates nos bairros centrais da cidade, dando início a uma série de
operações para a sua retomada, na Batalha de São Paulo. As forças legalistas
organizaram-se em uma grande Divisão, sob comando do General Eduardo Sócrates.
Esta Divisão compôs-se, no correr do mês, de cinco Brigadas atuando contra o
centro da cidade. Eram elas a Brigada Coronel João Gomes Ribeiro, atuando pelo
nordeste, Brigada Coronel Pantaleão Teles Ferreira e Brigada General Florindo
Ramos, escalonadas pelo leste, Brigada General Tertuliano Potyguara, pelo
sudeste, e Brigada General Carlos Arlindo, pelo sul. A tropa remanescente da
Força Pública legalista, organizada em um Regimento de Guerra sob comando do
Coronel Pedro Dias de Campos, operava independente sobre o Ipiranga e Cambuci.
A Divisão tinha ainda uma sexta brigada de artilharia divisionária, a Brigada
General João José de Lima.
Clique aqui para continuar.
artigo
publicado na REVISTA DIREITO MILITAR
/ Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais (Amajme). Imprenta:
Florianópolis, Amajme, 1996. Referência: v. 16, n. 103, p. 5–8, set./out., 2013.
O autor é Major da PMESP,
acadêmico emérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, cadeira
General Miguel Costa.