sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A ESTRATÉGIA-OPERACIONAL NA REVOLUÇÃO DE 1924



“De todas as operações da guerra, as mais difíceis são, incontestavelmente, as retiradas. Isto é tão verdadeiro que o célebre Príncipe de Ligne dizia que ele não conseguia conceber como um exército conseguia se retirar com sucesso.” - Barão de Jomini


A Revolução Paulista ou, como é conhecida hoje, a Revolução de 1924, é um dos grandes momentos da história brasileira. Graças à mobilização de grandes efetivos em operações de combate sobre extenso território, essa Revolução é rica em ensinamentos de estratégia-operacional, que é o objeto deste artigo.
O plano militar dos revolucionários, idealizado pelos irmãos Joaquim e Juarez Távora, era tomar a cidade de São Paulo em poucas horas, através do levante simultâneo das unidades do Exército em Quitaúna e Santana, e da Força Pública Paulista na Luz. Uma vez senhores da capital, enviariam destacamentos ligeiros para Barra do Piraí e Santos.
Quando as guarnições do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais fossem enviadas para reprimir o levante, esperavam que estas também aderissem à Revolução. Todas as tropas federais e estaduais localizadas no território paulista seriam concentradas em São Paulo, sob comando supremo do General Isidoro Dias Lopes. Este exército revolucionário lançaria, então, uma ofensiva em direção ao Rio de Janeiro, capital da República, para deposição do governo. O flanco leste da Revolução seria protegido contra um desembarque com guardas na Serra do Mar, nos acessos de Santos e Paranaguá.

Ilustração Eloar Guazzelli - livro São Paulo em Guerra

Iniciado o levante na madrugada de 5 de julho, houve resistência acirrada por parte de algumas unidades da Força Pública que permaneceram fiéis à legalidade, recebendo reforços do Exército e Marinha. O plano inicial dos revolucionários foi frustrado e os combates pela posse da capital arrastaram-se indefinidos pelos dias seguintes, em uma luta de linhas confusas e poucos movimentos cordenados.
A posse da capital só se decidiu na manhã de 9 de julho, após quatro dias de intensa luta de barricadas e bombardeios de artilharia, quando as forças legais abandonaram o perímetro urbano, indo concentrar-se na periferia afastada de Guaiaúna e Ipiranga. Os legalistas, expulsos de São Paulo, controlavam, entretanto,os acessos à capital por Santos e pelo Vale do Paraíba, mais uma vez frustrando a estratégia revolucionária de marchar para o Rio de Janeiro.
Nos primeiros dias da Revolução, várias unidades do interior do Estado aderiram, mas nas demais regiões e em outras capitais o movimento revolucionário falhou. No nível estratégico a vitória mais importante para os revolucionários viria, ironicamente, pelas mãos de um oficial legalista. Desde o dia 5 estavam estacionados em Bauru 300 homens da Força Pública, equipados e prontos para marcharem rapidamente sobre o flanco norte da capital. Se este movimento legalista tivesse sido executado, a qualquer momento, durante as duas primeiras semanas de luta, teria sido fatal à Revolução. Mas, para perplexidade geral, em 10 de julho o comandante da tropa, Major Januario Rocco, dispersa o batalhão e deserta, sem nenhum combate, deixando Bauru aberta aos revolucionários, que a ocupam com forças inexpressivas.

Na capital a retirada das forças legalistas representou o fim dos combates nos bairros centrais da cidade, dando início a uma série de operações para a sua retomada, na Batalha de São Paulo. As forças legalistas organizaram-se em uma grande Divisão, sob comando do General Eduardo Sócrates. Esta Divisão compôs-se, no correr do mês, de cinco Brigadas atuando contra o centro da cidade. Eram elas a Brigada Coronel João Gomes Ribeiro, atuando pelo nordeste, Brigada Coronel Pantaleão Teles Ferreira e Brigada General Florindo Ramos, escalonadas pelo leste, Brigada General Tertuliano Potyguara, pelo sudeste, e Brigada General Carlos Arlindo, pelo sul. A tropa remanescente da Força Pública legalista, organizada em um Regimento de Guerra sob comando do Coronel Pedro Dias de Campos, operava independente sobre o Ipiranga e Cambuci. A Divisão tinha ainda uma sexta brigada de artilharia divisionária, a Brigada General João José de Lima. 

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Artigo gentilmente enviado pelo Major PMESP Hélio Tenório dos Santos.

[1] artigo publicado na REVISTA DIREITO MILITAR / Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais (Amajme). Imprenta: Florianópolis, Amajme, 1996. Referência: v. 16, n. 103, p. 5–8, set./out., 2013.
[1] O autor é Major da PMESP, acadêmico emérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, cadeira General Miguel Costa.





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