sábado, 7 de março de 2015

Pé Espalhado

Algumas pessoas já me perguntaram se eu sabia alguma coisa sobre a canção Pé Espalhado que era cantada pela Coluna da Morte.  Dizem, que ao escutar a chegada da tropa cantando esta canção, as cidades se viam apavoradas.

A música Pé espalhado foi cantada pela primeira vez, pelo batalhão comandado por Cabanas, no dia 19 de julho.
João Cabanas e seus homens partiam da estação da Luz rumo a Mogi Mirim, sob as ordens do comandante Miguel Costa, para dispersar as tropas inimigas ali instaladas. Segue trecho do livro A coluna da morte, onde João Cabanas narra o episódio:

"Fui para a estação da Luz, onde tomei um trem. Apenas embarcado o último soldado, pôs-se o comboio em movimento, sob um entusiasmo pouco comum por parte dos expedicionários
e dos que assistiram o embarque.Atendendo a um pedido dos soldados,ordenei ao corneteiro que tocasse a marcha Pé espalhado.Este pedido traduzia o desabafo da tropa contra os toques de marcha do exército francês, estabelecidos nos quartéis brasileiros. Os soldados sentiam a saudade dos toques nacionais e aproveitavam o momento para gozarem as suas notas alegres que lhes eram tão gratas.

No decorrer da campanha, notei que os toques de marcha de origem genuinamente brasileiros comunicavam aos soldados coragem e entusiasmo."


Não consegui descobrir o autor da canção, nem a melodia, mas segue a letra ou fragmento e um pouco da sua história.


Arquivo Pessoal Augusto Malta

Pé Espalhado

Pé espalhado
Quem foi que te espalhou
Foi uma bala
Que o Aquidabã mandou

(autor desconhecido)

A canção cantada em 1924 era uma marcha carnavalesca muito popular. 
Faz referência ao governo do Marechal Floriano Peixoto e ao canhoneio que a cidade do Rio de Janeiro sofreu durante a Revolta da Armada, 1891-1893. 
Aquidabã é um encouraçado de esquadra e foi dele que partiu o tiro de advertência    à Esquadra de São Bento, chegando a danificar o campanário da Igreja de Nossa Senhora da Lapa dos Mercadores no centro do Rio de Janeiro, durante a primeira Revolta da Armada, onde Deodoro da Fonseca , pressionado, acaba renunciando.
Pé Espalhado, segundo conta Noel Nascimento em sua tese Arcabuzes, era um mendigo que vivia pelas redondezas da Igreja da Candelária, no Rio de Janeiro. Ganhou o apelido após ser atingido por um projétil da armada perdendo o pé.

Aqui está tudo que sei sobre a canção. Espero ter matado um pouquinho da curiosidade dos me indagaram sobre ela . 

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Coluna da Morte

Descrição:

Título: COLUNA DA MORTE, A
Autor: CABANAS, JOÃO
Editora: UNESP
ISBN: 9788539305322
Páginas: 390
Valor: 40,00
Frete: grátis






Apresentação

Relançado pela Editora Unesp, após 80 anos, o livro A Coluna da Morte chega às livrarias.

A presente edição é cópia fiel do livro, acrescido das conferências proferidas pelo Tenente Cabanas durante 1927, inclusive as proibidas : Campinas, Campos e Juiz de Fora. Sendo a última, causadora de uma crise na Política do café com leite.

Apresentação do sociólogo José de Souza Martins.




Sinopse :
Esta obra apresenta, na íntegra, o relato clássico de João Cabanas (1895-1974) sobre a Revolução de 1924, que tomou de assalto a cidade de São Paulo entre 5 e 28 de julho.
Durante aqueles dias cerca de 400 mil pessoas deixaram a capital, então com 700 mil habitantes, para sair da mira de granadas, tiros de artilharia pesada e até bombardeios aéreos que acabaram por arruinar vários bairros, ferir mais de 500 pessoas e matar outras 5 mil. No texto, autobiográfico, Cabanas apresenta sua visão do episódio, de que foi um dos protagonistas de maior relevância ao comandar o destacamento destemido que ficaria conhecido como Coluna da Morte. O relato do então 1º Tenente do Regimento de Cavalaria da Força Pública, que viria a ser a Polícia Militar, começa no momento em que ele recebe a primeira ordem do major Miguel Costa, para ocupar a Estação da Luz, em 5 de julho, e impedir as comunicações com o Rio de Janeiro. Cabanas descreve, a partir daí, com detalhes, o longo percurso geográfico e tático da campanha, as fugas espetaculares, os enfrentamentos com as tropas mais numerosas e preparadas do governo federal, os ataques dessas tropas contra a população. O relato segue até a queda do grupamento em Catanduvas, Paraná, seguida do encontro e união da Coluna Miguel Costa com a Coluna Prestes e seu deslocamento para o Paraguai. 



segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Caminhada em Defesa da Liberdade Religiosa

A intolerância religiosa é algo que vem me preocupando faz algum tempo. É alarmante o número de casos que vêm sendo registrados de uns tempos para cá.
Domingo acontecerá no Rio de Janeiro a 7ª Caminhada pela Liberdade Religiosa e me recordei de um desenho do meu avô, João Cabanas, que faz parte de um "livro" ainda inédito, escrito em 1950 aproximadamente,e me veio a idéia de criar este evento, pois tenho a certeza que ele apoiaria e estaria na primeira fileira.
João Cabanas era um democrata e acreditava nos ideais, mais que isso, dizia que se uma pessoa não tem ideais de nada vale.
Segue um trecho:
"As idéias e a liberdade é o que dá coragem aos homens. O governo que quiser combater as idéias dos outros com violência está sempre arriscando a tranqüilidade do país e do povo.
Também quem não tiver idéia alguma não vale nada. Não pode ser bom cidadão, nem bom pai, nem bom filho.

Idéia não é manteiga que os outros podem derreter quando querem e as idéias dos homens não se combatem prendendo, xingando ou excomungando. Combate-se com outras idéias e com educação."



quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A Ação Tática de João Cabanas

O livro abaixo foi lançado este ano. O autor, Helio Tenório dos Santos, membro da Academia de História Militar e Terrestre do Brasil, narra de forma clara e precisa a Ação Tática no Eixo da Mogiana. O título assusta, mas o livro é de leitura fácil e agradável, daqueles que terminam sem que você se dê conta.





Este livro, que tenho a honra de apresentar, chegou para um resgate da História, para redescobrir um personagem, um mito, um herói ou bandido, que foi João Cabanas, Tenente da antiga Força Pública na Revolução de São Paulo.
Sua fama perdurou por muito tempo, varou anos e anos mas, com o suceder de gerações, foi sendo esquecido e, nos dias de hoje, apenas os homens de cultura sabem quem foi o bravo, arrojado, engenhoso, também estigmatizado como sanguinário, vândalo e bandoleiro.
Chegou-nos essa obra em boa hora, porque ela acrescenta algo mais, soberbamente valioso, para somar à saga do Tenente João Cabanas, herói de tantas façanhas e loucuras.
O agudo sentido do autor, na pesquisa inteligente, nos traz à luz importantes fatos adormecidos no tempo e no espaço, que somente a sua lupa investigatória podia descobrir. Também nos apresenta Cabanas, não como um simples tenente cumpridor de ordens, mas sim um comandante de vontade própria, resolvendo de imediato todas as situações críticas de uma guerrilha.
Nove mapas ilustram as situações táticas e estratégicas na evolução da luta. O leitor atento às manobras, focalizadas nos mapas, certamente aprenderá um pouco da arte da guerra.



Coronel PM EDILBERTO DE OLIVEIRA MELO
Acadêmico Emérito da Cadeira General Miguel Costa
da Academia de História Militar Terrestre do Brasil

São Paulo, 1924






Mais que um livro, um banco de dados. Assim podemos chamar este compêndio escrito por Celso Luiz Pinho, ilustre tenente da reserva da Polícia Militar do Estado de São Paulo.
Ele se propôs a uma missão e a cumpriu honrosamente. Muitas pessoas que hoje circulam pelo centro de São Paulo, sequer imaginam o que aconteceu naqueles 27 dias de julho de 1924. Melhor seria se as pessoas que palmilham as ruas da capital soubessem que por ali correu um mar de sangue, de destruição, de sofrimento, envolvendo ações de outros homens que se arriscaram para não entregar a liberdade às algemas da tirania, em troca de um país melhor para todos.

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sexta-feira, 15 de agosto de 2014

A ESTRATÉGIA-OPERACIONAL NA REVOLUÇÃO DE 1924



“De todas as operações da guerra, as mais difíceis são, incontestavelmente, as retiradas. Isto é tão verdadeiro que o célebre Príncipe de Ligne dizia que ele não conseguia conceber como um exército conseguia se retirar com sucesso.” - Barão de Jomini


A Revolução Paulista ou, como é conhecida hoje, a Revolução de 1924, é um dos grandes momentos da história brasileira. Graças à mobilização de grandes efetivos em operações de combate sobre extenso território, essa Revolução é rica em ensinamentos de estratégia-operacional, que é o objeto deste artigo.
O plano militar dos revolucionários, idealizado pelos irmãos Joaquim e Juarez Távora, era tomar a cidade de São Paulo em poucas horas, através do levante simultâneo das unidades do Exército em Quitaúna e Santana, e da Força Pública Paulista na Luz. Uma vez senhores da capital, enviariam destacamentos ligeiros para Barra do Piraí e Santos.
Quando as guarnições do Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul e Minas Gerais fossem enviadas para reprimir o levante, esperavam que estas também aderissem à Revolução. Todas as tropas federais e estaduais localizadas no território paulista seriam concentradas em São Paulo, sob comando supremo do General Isidoro Dias Lopes. Este exército revolucionário lançaria, então, uma ofensiva em direção ao Rio de Janeiro, capital da República, para deposição do governo. O flanco leste da Revolução seria protegido contra um desembarque com guardas na Serra do Mar, nos acessos de Santos e Paranaguá.

Ilustração Eloar Guazzelli - livro São Paulo em Guerra

Iniciado o levante na madrugada de 5 de julho, houve resistência acirrada por parte de algumas unidades da Força Pública que permaneceram fiéis à legalidade, recebendo reforços do Exército e Marinha. O plano inicial dos revolucionários foi frustrado e os combates pela posse da capital arrastaram-se indefinidos pelos dias seguintes, em uma luta de linhas confusas e poucos movimentos cordenados.
A posse da capital só se decidiu na manhã de 9 de julho, após quatro dias de intensa luta de barricadas e bombardeios de artilharia, quando as forças legais abandonaram o perímetro urbano, indo concentrar-se na periferia afastada de Guaiaúna e Ipiranga. Os legalistas, expulsos de São Paulo, controlavam, entretanto,os acessos à capital por Santos e pelo Vale do Paraíba, mais uma vez frustrando a estratégia revolucionária de marchar para o Rio de Janeiro.
Nos primeiros dias da Revolução, várias unidades do interior do Estado aderiram, mas nas demais regiões e em outras capitais o movimento revolucionário falhou. No nível estratégico a vitória mais importante para os revolucionários viria, ironicamente, pelas mãos de um oficial legalista. Desde o dia 5 estavam estacionados em Bauru 300 homens da Força Pública, equipados e prontos para marcharem rapidamente sobre o flanco norte da capital. Se este movimento legalista tivesse sido executado, a qualquer momento, durante as duas primeiras semanas de luta, teria sido fatal à Revolução. Mas, para perplexidade geral, em 10 de julho o comandante da tropa, Major Januario Rocco, dispersa o batalhão e deserta, sem nenhum combate, deixando Bauru aberta aos revolucionários, que a ocupam com forças inexpressivas.

Na capital a retirada das forças legalistas representou o fim dos combates nos bairros centrais da cidade, dando início a uma série de operações para a sua retomada, na Batalha de São Paulo. As forças legalistas organizaram-se em uma grande Divisão, sob comando do General Eduardo Sócrates. Esta Divisão compôs-se, no correr do mês, de cinco Brigadas atuando contra o centro da cidade. Eram elas a Brigada Coronel João Gomes Ribeiro, atuando pelo nordeste, Brigada Coronel Pantaleão Teles Ferreira e Brigada General Florindo Ramos, escalonadas pelo leste, Brigada General Tertuliano Potyguara, pelo sudeste, e Brigada General Carlos Arlindo, pelo sul. A tropa remanescente da Força Pública legalista, organizada em um Regimento de Guerra sob comando do Coronel Pedro Dias de Campos, operava independente sobre o Ipiranga e Cambuci. A Divisão tinha ainda uma sexta brigada de artilharia divisionária, a Brigada General João José de Lima. 

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Artigo gentilmente enviado pelo Major PMESP Hélio Tenório dos Santos.

[1] artigo publicado na REVISTA DIREITO MILITAR / Associação dos Magistrados das Justiças Militares Estaduais (Amajme). Imprenta: Florianópolis, Amajme, 1996. Referência: v. 16, n. 103, p. 5–8, set./out., 2013.
[1] O autor é Major da PMESP, acadêmico emérito da Academia de História Militar Terrestre do Brasil, cadeira General Miguel Costa.